SOBRE A EXPOSIÇÃO
Uma biblioteca não é apenas um espaço material: é, sim, uma espiral imaterial, pedra vertical e caminho ascendente. Uma biblioteca não é apenas uma espiral: é também um labirinto de palavras.
Convida-nos a um discreto levitar do corpo, ao movimento perpétuo das ideias, aos miradouros invisíveis do nosso coração pensante. Uma biblioteca não guarda apenas livros: é, antes, guardiã de livros cujos trajectos reluzem na mente do leitor.
Uma biblioteca não alberga apenas livros: amplia o horizonte interior de quem busca e indaga. Um livro revela a radiografia de um voo. Assim, uma biblioteca não sacia tão-só a sede de conhecimento, mas, sim, alimenta-a e intensifica-a. Um livro não é apenas uma refeição: para o espírito, é um banquete sem fim.
Um livro não é apenas um objeto: é, sobretudo, um pedaço de inteligência em perpétuo movimento. Um livro não procura apenas uma mente liberta: produz uma mente em queda livre.
O seu destino final reside no olhar transformado de quem lê. E quem lê - quem sabe ler bem - é um peregrino que a paixão faz levitar, um corpo dançante, um coração leve como o vento - um vento sagaz que suspende a gravidade e eleva o ser. Fernando Pessoa, em carta datada de 11 de dezembro de 1931 dirigida ao amigo João Gaspar Simões, ao explicar a natureza da sua personalidade artística, escreve: «Voo outro - eis tudo.»
Por que não voamos como o Poeta?
Afinal, «voar outro» é simplesmente outro modo de sermos nós próprios: viajantes sem fim.
As belas fotos de Rodrigo de Matos convidam-nos, tal como as palavras do Poeta, a olhar diferentemente o mundo material e imaterial que doravante e para sempre se entrega ao nosso olhar extasiado.
Então, vamos voar?
Christopher Auretta DCSA / FCT Nova