Os teatros, como os cinemas, costumam ser sítios onde a luz natural não entra. São o domínio da luz dos projetores e das projeções, manipulada de acordo com a vontade da arte. A narrativa de Black Comedy, peça de teatro escrita por Peter Shaffer em 1965, desenvolve-se em torno de uma falta de energia que sujeita um conjunto de personagens à mais completa escuridão. Há um problema num fusível que deixa sem energia elétrica a casa de um artista. Mas a teatralização da história assenta numa inversão: quando as personagens ainda se encontram num espaço com luz, Shaffer coloca-as na escuridão. O público não as vê. Pelo contrário, quando as personagens se encontram efetivamente na escuridão, Shaffer ilumina-as e o público pode ver como elas se comportam quando julgam que não estão a ser vistas. Tentam perceber onde estão os móveis para não irem contra eles, trocam sem querer os copos com bebidas alcoólicas com outros de bebidas sem álcool, quase chocam umas com as outras sem saberem. Só os espectadores vêm o que se passa: como as pessoas se permitem comportar-se quando ninguém as pode observar, e as atrocidades de que são capazes. Neste tempo de sobre-exposição da privacidade, a peça de Shaffer mostra o que acontece na invisibilidade.
Black Comedy estreia-se na Sala Mário Viegas do Teatro São Luiz – a mesma sala onde, em 1995, Mário Viegas a apresentou. Na sua tradução, chamou-lhe Uma Comédia às Escuras e, no programa de sala, esclarecia: “Escolhi esta peça para nos divertirmos nós próprios e o Público, claro. (…) As personagens não vão ensinar nada a ninguém. (…) Outro aspecto que quero vivamente salientar, é que os actores mais novinhos têm, aqui, uma oportunidade muito grande de mostrar as suas habilidades perante o Público”.
Ficha Técnica
Alunos do ramo de atores Daniela Cecília, Inês Mata, Jacinta Correia, Margarida Martins, Mia Henriques, Pedro Monteiro, Pedro Tavares, Rita Gonçalves e Nídia Cardoso Alunos do ramo de produção António Serrão, Beatriz Abelha, Lara R. Santos e Mariana Correia Equipa pedagógica ESTC Andreia Carneiro, Jorge Andrade e Miguel Cruz Apoio de Voz Maria Repas Apoio ao Movimento Jean Paul Bucchieri Gabinete de produção Rute Reis e Rui Girão Agradecimentos José Capela, Miguel Pereira e Escola do Largo.