Atores
Afonso Abreu
Eduarda Arriaga
Hugo Vasconcelos
Mariana Pinheiro
Nuno Carmo
Siobhan Fernandes
Thomy
Teresa Silveira Machado
Tiago Correia
Apoio à Dramaturgia
David Antunes
Francisco Luís Parreira
Aluna do Seminário do Doutoramento em Artes
Carolina Puntel
Assistência de Encenação
Beatriz Mestre Costa
Encenação
Jean Paul Bucchieri
Agradecimentos
Joana Manaças
Jorge Ramos do Ó
Hugo Costa
Sérgio Coragem
Agradecimento especial
Carolina Ceia
Capítulo I - Capítulo II – Capítulo III
O conceito de Exercício final ou “espetáculo final” dos alunos finalistas da Licenciatura em Teatro, remeteu-nos para um conjunto de argumentos a partir dos quais percebemos que seria possível construir uma geografia dramatúrgica que dialogasse entre uma escrita de autor e uns textos que pudessem derivar de obras semi-biográficas e/ou reflexivas.
Pensar o fim como o início de algo de novo, pareceu-nos desde logo ser um ponto onde todos estaríamos de acordo. Decidimos, portanto, pensar quais caminhos devíamos tomar, tendo em conta a ideia de que, em todo o caso e de uma forma muito concreta, isto seria e é, de facto, uma última vez no seio de uma coisa a que chamamos escola. É, para todos os efeitos, um último espetáculo ou um exercício, um Exercício Final que conclui três anos de estudos, estudos estes, baseados na possibilidade de vir a ser ator e/ou, de alguma maneira, de vir a fazer teatro. Pensámos consequentemente, na possibilidade de fazer uma reflexão sobre isso e tentámos investigar que outros caminhos, metodologias, sistemas de ensino, modelos de escolas, formas de pensar, existiram e / ou ainda acontecem nas escolas de arte. Confrontámo-nos com sistemas como o da Black Mountain School, da Bauhaus e percebemos - sem, no entanto, tirar conclusões -, questões que estes sistemas fazem ainda emergir na nossa contemporaneidade.
Edificámos assim o Capítulo II - UTOPIA, que levanta questões que não entendemos serem um lugar de resposta, mas sim de debate, de pensamento critico e de uma possível reflexão sobre metodologias e sistemas de ensino nas artes, neste caso específico, sobre teatro. Não queremos fazer uma crítica, mas sim tentar discutir abertamente, sem receios e no seio de um momento de finalização de um percurso, os argumentos que seriam uma coluna vertebral de uma possível reflexão sobre um “pensar a pedagogia de um exercício teatral”. Persistiu em nós a dúvida sobre a legitimidade de fazer isso em público, mas não duvidamos da nossa necessidade de questionar constantemente o ato teatral e a sua pedagogia, como um espaço transversal, livre e fundamentalmente democrático. A linguagem, a estética, o compromisso com a convenção do teatro, não foram com certeza a coluna vertebral deste nosso Capítulo II. Daí, deixarmos de parte a ideia de personagem e narrativa como ato fundamental da ação teatral. Desejamos simplesmente partilhar uma reflexão com o mundo exterior; conscientes do falhanço de uma experiência de escrita de não autores. Mas creio que o que nos interessou mesmo foi a possibilidade de cair no abismo do falhanço e experienciar, cada vez, caminhos e soluções para construir e desconstruir os argumentos escolhidos. Até ao último ensaio, estivemos a decidir se seria necessário e possível apresentar o Capítulo II. E ainda não decidimos.
O capítulo I fundamenta-se na possibilidade de criar uma série de manifestos sobre pressupostos semi-biográficos, que desejam dialogar com a experiência de estar sozinho em cena, procurando construir territórios onde a ideia teatral possa construi-se sobre identidades e biografias. Este Capítulo I – MANIFESTOS é um desejo de transformar a biografia em ficção, a identidade em narrativa, a história pessoal em fábula, as coisas não ditas em conto. Arriscamos a necessidade de expor a banalidade das nossas biografias, assumindo com lucidez que é impossível dividir a biografia da construção teatral. Percebemos que seria importante concluir um período de estudos, não guardando questões que, apesar de tudo, sempre estiveram presentes na construção e na reflexão, nestes três anos de trabalho. E sim, não tentar ir atrás de uma construção de uma narrativa que convidasse o espectador a construir uma história.
Simplesmente estar sozinho em cena.
Finalmente, tivemos necessidade de confrontar-nos com um autor que de alguma maneira, respondesse ou dialogasse com as questões mais relevantes dos argumentos tratados. Beckett amplificou e complicou a nossa fuga (ou regresso) ao teatro. Interessou-nos a palavra, simplesmente a palavra. Cada uma. Como dizer, como fazer da palavra de Beckett só palavra. E, eventualmente, tornar estas mesmas palavras numa possível desfragmentação. Este Capítulo III - OBJECTO TEATRAL incide nos argumentos beckettianos com a vontade de construir a matéria primordial do teatro, com todos os seus recursos necessários, a saber, em primeiro lugar a palavra e, ainda, a pantomina, o gesto, a repetição, o figurino, a luz, a contenção e, acima de tudo, o artifício. Como fazer funcionar a palavra que pretende desintegrar o sentido? Como é que o artifício joga contra tudo o que nos interessou e, no entanto, aqui estamos com ele? Sempre tivemos presente a ideia fundamental de falhar, falhar sozinhos, falhar em cena e falharmos todos.
Sim, não há um espetáculo desejado, mas uma vontade qualquer de, momentaneamente, partilharmos algo que ainda não conseguimos decifrar. Ficámos juntos este tempo todo, convergimos sobre este objeto, divergimos sobre as suas possibilidades, discutimos e questionámos constantemente o que seria necessário fazer e onde deveríamos cortar “como a lâmina do escultor”. Agora só no resta fazer. Depois, como sempre, cada um seguirá os seus caminhos.
A mim resta-me agradecer-lhes, a cada um deles: boa sorte, quando isto tudo acabar, recomeça tudo, outra vez. Fora daqui.
Amadora, 12 de Julho de 2021