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A pedido do Director do Departamento de Teatro, o meu querido colega Luca Aprea, escrevo, na minha qualidade de Professor Coordenador da área de Interpretação, com as ideias embargadas, sobre a morte do encenador, professor e mestre Carlos Avilez.

Para lá de tudo o que de pessoal lhe devo, que para aqui pouco importa, há a relação constante, leal e empenhada do Carlos com a ESTC. A EPTC ( Escola Profissional de Teatro de Cascais), o sonho pedagógico tornado realidade do Carlos e do João Vasco , teve sempre uma relação umbilical com a ESTC. São incontáveis os alunos da nossa escola que tiveram a sua formação inicial na EPTC. Era a ESTC, a nossa Casa, que o Carlos recomendava a quem quisesse prosseguir a sua vida profissional no Teatro.
A marca do Carlos Avilez, existia em todos estes alunos: a paixão indelével; o fazer Teatro, "de dentro para fora", com tudo o que contraditório, contraproducente, ousado, doloroso e feliz, esses gestos representam.

A ortodoxia do Carlos tinha uma ferocidade gentil, um estalar de dedos característico quando dirigia actores, pedindo "mais e mais!". O quê?  Verdade, mentira, fingir bem, incorporar a personagem até se plasmar no actor, sem defesas, no limite?

O Carlos Avilez recebia todos, espectadores e artistas, no TEC (Teatro Experimental de Cascais; companhia pioneira do Teatro independente em Portugal) com um sorriso amável.

Era um cavalheiro implacável dessa devoção necessária, indefectível pelo Teatro; desse descaminho para se atingir um fundamento, a raíz desse mistério da presença em cena; do "aqui e agora" em que se acredita e que nos acende.

O Carlos Avilez era uma árvore luminosa do teatro português, uma árvore que morreu de pé, como na peça homónima, que tantas vezes referia. Tinha estreado dia 18 de Novembro a Electra de Eugene O'Neill.

Morreu hoje dia 22 de Novembro.

 

Já deve ter começado o ensaio da peça nova.

 

Carlos J. Pessoa